quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Desilusão.

E como vão leitores cada vez mais escassos?

Ao som brasileiro, desfrutem deste desfecho do conto que comecei na postagem anterior :


DESILUSÃO~ epílogo

O vento o lapidara...
Numa noite de muito vento, Laetitia levantou da cama, com frio. Calçou os pés numa pantufa vermelha, vestiu um casaco de linho e caminhou pela casa. Abriu a porta sorrateiramente para que a avó nao acordasse, atravessou o quintal, e foi até o rochedo... Ali ficou sentada.
O vento soprava forte, Laetitia mal podia manter o casaco junto ao corpo. Os pêlos ouriçavam, os cabelos embaraçavam...
Ela não sabia porquê mas ela achava que o rochedo a aquecia.
Mas Laetitia nunca fora levada a sério mesmo, por isso nunca nem comentara com nenhum dos aldeões sobre o assunto...
Eles apontariam para ela, e com sarcasmo diriam :
_Onde já se viu, pedra ser quente?
E gargalhariam debochadamente.
Por isso, Laetitia mantivera-se calada.
Calada e solitária, era como ela estava naquele momento. Pressionava o corpo contra a base estreita do rochedo, e não sentia mais frio.
***
O rochedo, que outrora ficara tão contente com o afago de Laetitia, não podia perceber que a mesma estava naquele momento com seu corpo ali, com sua alma ali, com sua expectativa ali, nele. Na verdade ele não percebera deste modo, porque as concavidades de cima estavam sendo esfareladas pelo vento, e tudo o que ele percebia era que tinha uma garota inconveniente tentando distraí-lo enquanto ele tentava espantar o vento à sua maneira.Ele estava com medo, estava em pânico, estava irritado.
***
Laetitia não queria irritá-lo, mas parece que o sangue daquele rochedo ferveu, e o calor dele que laetitia outrora sentira passou a queimá-la...
E este foi o jeito que ele conseguiu de espantar o vento impetuoso que lhe provocara e tanto humilhara.
As concavidades superiores se distanciaram caracterizando uma ruptura central, e então o rochedo bufava negramente espantando o vento que correu amedrontado.
De repente jatos de solidão ardente foram lançados do rochedo, ele sangrava, e Laetitia já não podia ajudar nem mesmo com um afago.
Ele sabia como afastar alguém, e afastou o vento, afastou Laetitia.
***
Laetitia tinha razão quanto ao calor daquela pedra, e agora desiludida dançava na lava, boiava num magma incandescente...
No dia seguinte, Laetitia era basalto.
O vento o lapidara, mas ele mesmo se fizera lápide.

***

Enjoyem :)

BAILARINA VERBAL

6 comentários:

  1. Que triste! :P

    Tenho lido pouco ou vc tem falado mt sobre pedras? haha

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  2. Que final hiper mega 'cool'. "De repente jatos de solidão ardente foram lançados do rochedo, ele sangrava, e Laetitia já não podia ajudar nem mesmo com um afago."
    'Isso' me deu vontade de fazer concepts. (e de modelar, e de texturizar e iluminar, e de animar tb [de renderizar não. {rum}] [não necessariamente nessa ordem. as vezes a gente tá animando, mas ainda mexendo nas texturas ou na luz. depende tb do prazo. isso SE tiver]
    Comentário nêrd FTW! \m/ Computação Gráfica para todos.

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  3. Parabéns linda! Muito bom o texto! :D

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  4. caara..
    tenho que confessar!!
    li este texto totalmente metaforicamente!...
    ahuahau..

    mas enfim..
    encarei-o como um novo final!
    mais revoltado
    tb achei cool!!
    a parada dos jatos de lava!
    bem intenso

    "O vento o lapidara, mas ele mesmo se fizera lápide."

    nesse caso nem o afeto incondicional de laetita pode inpedir a autodestruição de um rochedo incompreenssivo.

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  5. Ressalto que disse outrora: siga a história. Está aprofundando a relação de dois incomodados com sua condição de existência: o Rochedo e Laetitia. No mais, não há porque ficar triste. O comportamento do Rochedo fora humano, como de muitas pessoas. No mais, acho que a história foi muito bem desenvolvida. Não perca o foco, e escreva. Estou acompanhando!

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